sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

No ano 2000, o Rei Congá é cultura nos 500 anos do Brasil, 2000

(Samba-Enredo da Escola de Samba Lins Imperial)

Compositores: Alvim e Jorge Branco

Intérprete: Anderson Paz

Áudio: reprodução internet

Foto: Twitter do fotógrafo Juha Tamminen (Pai Santana no Carnaval de 1993)

 


 

Letra:

 

Viajando, o mensageiro da paz

Por um portal que a Lins criou

Volta no tempo à terra dos seus ancestrais

E vem contar tudo o que viu e ouviu

Nos 500 anos do Brasil

 

Vem, quem espera sempre alcança

Pra que chorar? Vamos sorrir!

Você pra mim é muito mais que especial

De verde e rosa vou brincar meu carnaval

 

Vi a África tão linda

Em todo o seu esplendor, ô, ô

Vi o branco escravizando, amor

Meu irmão de cor

Oh, divina mão que assinou

Sofrimento nunca mais

Negro dançou, comemorou

No rufar do seu tambor

Agradecendo aos orixás

Dança cavalhada, congada e maracatu

Reisado, folia de reis

Olha a Lins Imperial fazendo a festa pra vocês

Oh, Pai Santana

Oh, Pai Santana, na tua força eu me inspiro pra cantar

Exemplo de menino pobre

Mas de sentimento nobre é coroado Rei Congá

 

Hoje tem fuzarca

A galera vai cantar

Esse negro mirongueiro

É campeão de terra e mar!

 

A Sociedade Recreativa Escola de Samba Lins Imperial surgiu em 1963 da fusão de duas outras escolas (Filhos do Deserto, fundada em 1933, e Flor do Lins, de 1946). O enredo “No ano 2000, o Rei Congá é cultura nos 500 anos do Brasil”, desenvolvido pelo carnavalesco Jorge Caribé, homenageou o lendário Eduardo Santana (1934-2011), conhecido como Pai Santana, massagista do Vasco e Rei Congá do Carnaval carioca. O desfile ficou em 6º lugar no Grupo B (correspondente à terceira divisão).

Santana era “neto de escrava, seu pai era de santo, daqueles que escolhiam quem partia ou ficava. Diante das encruzilhadas da vida, Eduardo Santana pegou a trilha da cultura ancestral. Nasceu em Minas, passou por terreiros de Salvador e permaneceu à margem, num abrigo para menores no Rio. A integração veio pelo esporte, numa colina onde negros e colonizadores formam uma nação. Macumbeiro oficial do Vasco, clube de tradição católica, Pai Santana encarna o espírito romântico do futebol. Da época em que a magia estava na ligação afetiva entre as pessoas.” (O Globo, reproduzido no site Netvasco).

O posto de Rei Congá no Carnaval carioca veio com a lei nº 1671 de 25 de janeiro de 1991, que instituiu no Carnaval “a figura do Rei Congá ou Rei Negro”. 

Ao Jornal dos Sports de 1º de março de 1992, Santana declarou: “Só porque estou gordinho, gostam de me comparar com o Rei Momo, mas ele desfila em carro alegórico e eu vou na pista. É preciso muito fôlego, mas eu encaro”. O mesmo jornal, de 25 de fevereiro do ano seguinte, confirmou a vitalidade do Rei Congá carioca: “O lendário ‘Pai’ Santana foi literalmente o dono da Avenida. Como Rei Negro do carnaval carioca teve que desfilar à frente de todas as escolas. Sua maratona começou na quinta-feira, com o desfile das escolas mirins, continuou na sexta-feira e sábado, com o desfile do segundo grupo, prosseguiu no domingo se segunda-feira, com o grupo especial, e terminou ontem, pela manhã, com o desfile do Grupo 2. Com tudo isso, não deixou de ir ao Vasco, onde trabalhou normalmente na terça, à tarde, e ontem pela manhã”. 

Jornal do Brasil, 26/02/1992
O Fluminense, 20 e 21/03/1994

Nos anos 2000, Santana continuou indo à Avenida, como registrou o Jornal do Brasil de 24 de fevereiro de 2004: “À frente das escolas, passava o carrinho elétrico do Vasco da Gama que circula em São Januário. Era Pai Santana, folião habitual na Sapucaí: ‘Estou com uma perna ruim’.” No Carnaval de 2005 ele voltou a representar o Rei Congá, como registou foto reproduzida pelo site Netvasco (abaixo), com a legenda: “ele é conduzido na avenida por Penedo, ex-motorista e condutor da maca móvel do Vasco”.


Jornal dos Sports, 03/03/2003


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