Compositor / Intérprete: Zé Fidélis
Acompanhamento: Seus Malucos
Gravação: 27/05/1949 (lado B do 78 rpm nº 16080 da Continental – Matriz 11025-1).
Áudio: arquivo IMS
Foto: Selo do disco (reprodução internet).
Cena cômica.
Transcrição:
Amigos
ouvintes, boa noite. Estamos irradiando diretamente do estádio São Januário de
Oliveira, onde dentro de poucos minutos terá início o grande encontro do
futebol entre os quadros do Vasco e do Arsenal, da Inglaterra. Após a preliminar,
que não se realizou, entram em campo os dois conjuntos adversários, estando os
quadros assim constituídos:
Vasco:
Rabanete, Vagalume e Sacripanta; Esticadinho, Pé de Gancho e Chato; Sonâmbulo,
Esparadrapo, Sovaco de Ouro, Cafajeste e Salafrário.
Arsenal:
Yes, Good Night e Thank You; Ford, Foxtrote e Chevrolet; Frankenstein,
Butterfly, Rin Tin Tin, Popeye e Coca-Cola.
O juiz é
o inglês Mr. Barrica. São 9 horas e 32 centímetros. O juiz trila o apito, e os
nossos avançam pela direita, pela esquerda e pelo centro! Mas sem a bola, pois
se esqueceram de colocá-la no campo. Quando dão pela falta da pelota, voltam
todos para os seus lugares e o jogo começa de novo.
Esparadrapo
passa para Sonâmbulo. Este dá um drible nele mesmo e cai no chão com reumatismo
(...). Quem pega a bola é Sovaco de Ouro, que engana a si próprio, entregando-a
a Butterfly. Este avança pela esquerda, mas Esticadinho mete-lhe uma canelada
nas costas e rouba-lhe o balão, entregando-o a Chato. Este, para não desmentir
o nome que tem, senta em cima da bola e diz: Ninguém joga mais!
Os
jogadores o cercam e imploram para que ele saia de cima da pelota. O juiz
xinga-lhe uma pessoa da família, ele alevanta-se e o jogo prossegue. Agora os
ingleses atacam. Ford engata a terceira e passa a Chevrolet. Este dá marcha a
ré e, quando vai sair, o juiz apita, dando por encerrado o primeiro tempo. O
jogo está sendo disputado com tanta rapidez que os 45 minutos regulamentares
duraram apenas dez.
Vai ter
início o 2º tempo! O juiz apita e quem sai com a bola é Sovaco de Ouro, que a
passa para Cafajeste. Este apanha a pelota, faz que vai para a esquerda e vai
mesmo! Passa para trás e chuta de cabeça com tanta violência que ele vai e a
bola fica!
Frankenstein
é quem a pega, mas quando vai chutar recebe violenta cacetada de Salafrário,
caindo sem sentidos no chão, completamente defunto. Pênalti! O juiz apitou
pênalti. Rin Tin Tin vai bater em pressão. Ouve-se o apito do juiz. Rin Tin Tin chuta a bola na trave direita, e
Rabanete arrebenta as fuças na trave esquerda. O massagista entra em campo,
coloca um ponto falso na trave e o jogo prossegue cada vez mais desanimado.
Quem
está com a bola agora é Cafajeste, que avança e, sem ninguém esperar, chuta
violentamente com os dois pés e marca o primeiro ponto da partida, com a meta
inglesa completamente desguarnecida, pois o guardião inglês foi lá fora comprar
a 5ª edição de um jornal que já traz o resultado final do jogo.
Os
ingleses reagem e dão novamente a escapada; todos de escapamento aberto.
Butterfly pega a bola e chuta com violência. Rabanete atira-se em parafuso e
consegue evitar que a bola vá a escanteio, mandando-a para dentro do gol. Foi
gol, é verdade, mas o pulo foi muito bonito.
É dada nova saída e terminou o jogo, amigos ouvintes! Terminou o jogo com a brilhante vitória dos nossos por 1 a 1. O juiz é bastante cumprimentado, e o seu enterro realiza-se amanhã, caso faça bom tempo. E aqui encerramos esta nossa irradiação esportiva. Boa noite e muito obrigado.
***
O Vasco fez três jogos contra o Arsenal em sua história, e venceu todos. No primeiro, em 25/05/1949, dois dias antes da gravação da paródia acima, venceu em São Januário por 1 a 0. Em 12/06/1951, no Maracanã, o placar foi 4 a 0. Em 09/08/1980, em jogo realizado em Belgrado (Sérvia), derrotou os ingleses por 2 a 1.
Na reportagem da Sport Ilustrado nº 582 sobre o primeiro jogo diz-se que:
“A falange representativa do Vasco, frente ao Arsenal, teve uma atuação magnífica. (...) Foi esta a atuação dos ‘onze’ heróis vascaínos na memorável partida contra o team mais famoso do mundo.”
Zé Fidélis, o narrador com sotaque português da paródia, era o pseudônimo usado por Gino Cortopassi, humorista e radialista de São Paulo.
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