sexta-feira, 10 de junho de 2022

Entra Vasco, 1938

Compositores: Alberto Ribeiro e Antônio Almeida

Intérprete: Aurora Miranda

Acompanhamento: Conjunto Regional RCA Victor

Gravação: 14/11/1938 (lado A do 78 rpm nº 34.403 da Victor – Matriz 80932).

Áudio: arquivo IMS

Foto: selo do disco (reprodução internet).

 


 Letra:

 

Fui criada com churrasco

Chimarrão não faz fiasco

Mete um gol que eu quero ver

(Coro: Quero ver, quero ver)

Quem é que vai vencer

(Coro: Vai vencer, vai vencer)

 

Fui criada com churrasco

Chimarrão não faz fiasco

(Coro: Entra Vasco, Entra Vasco

Entra Vasco, Entra Vasco,

Que eu não jogo pra perder)

 

Coro: O Flamengo ganha o jogo,

Fluminense e Botafogo,

Bota fogo na canjica, iaiá,

Para ver como é que fica, ioiô.

 

Fui criada com churrasco

Chimarrão não faz fiasco

Mete um gol que eu quero ver

(Coro: Quero ver, quero ver)

Quem é que vai vencer

(Coro: Vai vencer, vai vencer)

 

Fui criada com churrasco

Chimarrão não faz fiasco

(Coro: Entra Vasco, Entra Vasco

Entra Vasco, Entra Vasco,

Que eu não jogo pra perder)

 

Coro: Da extrema dá um chute,

A defesa não discute,

Buliçosa para o centro, iaiá,

E a bola não vai dentro, ioiô.

 

Fui criada com churrasco

Chimarrão não faz fiasco

Mete um gol que eu quero ver

(Coro: Quero ver, quero ver)

Quem é que vai vencer

(Coro: Vai vencer, vai vencer)

 

Fui criada com churrasco

Chimarrão não faz fiasco

(Coro: Entra Vasco, Entra Vasco

Entra Vasco, Entra Vasco,

Que eu não jogo pra perder) 

 

Filha de imigrantes portugueses, Aurora Miranda da Cunha (Rio de Janeiro, 20/4/1915 – Rio de Janeiro, 22/12/2005) era irmã mais nova de Carmen Miranda. O disco com a marcha “Entra Vasco” foi sua estreia na gravadora Victor, após a saída da Odeon.

O “Entra Vasco!” era um grito comum nos estádios desde a década de 20, tanto entoado pela torcida vascaína quanto pelas adversárias, que provocavam gritando “Entra Basco que o meu marido é sócio”.

Sendo um grito típico de torcida, foi utilizado em revistas cômicas que falavam de futebol durante a década de 20 (e possivelmente houve outras músicas com esse título cantadas durante as encenações), antes do lançamento da música de Aurora Miranda:

- Revista-carnavalesca “Bahiana, olha p’ra mim”, com letra de C. Bittencourt e C. Menezes e música de Assis Pacheco e Sá Pereira, encenada no início de 1926. O 17º quadro se intitulava “Entra Vasco, que meu marido é sócio!”, referindo-se ao grito das torcidas adversárias que provocavam os vascaínos.

- Revista “Entra, Vasco!”, de Henrique Júnior e Sá Pereira, que estreou em agosto de 1926. O último quadro, chamado “Renascimento do Maxixe”, era uma homenagem aos clubes de futebol.

- Revista supercômica “Microlandia” de Marques Porto, Luiz Peixoto e Affonso de Carvalho, com música de Rada e Sinhô, que estreou em setembro de 1928. O 10º quadro se intitulava “Entra Vasco”.

O Paiz de 27/08/1926

sexta-feira, 3 de junho de 2022

Quem dá mais?, 1931

Compositor / intérprete: Noel Rosa

Acompanhamento: Orquestra Copacabana

Gravação: 02/07/1932 (lado A do 78 rpm nº 10.931 da Odeon – Matriz 4473).

Áudio: arquivo IMS

Foto: Diário da Noite de 04/06/1930. 

 


Letra:

 

Quem dá mais...

Por uma mulata que é diplomada

Em matéria de samba e de batucada

Com as qualidades de moça formosa

Fiteira, vaidosa e muito mentirosa...?

 

Cinco mil-réis, duzentos mil-réis, um conto de réis!

Ninguém dá mais de um conto de réis?

O Vasco paga o lote na batata

E em vez de barata

Oferece ao Russinho uma mulata.

 

Quem dá mais...

Por um violão que toca em falsete,

Que só não tem braço, fundo e cavalete,

Pertenceu a Dom Pedro, morou no palácio,

Foi posto no prego por José Bonifácio?

 

Vinte mil-réis, vinte e um e quinhentos, cinquenta mil-réis!

Ninguém dá mais de cinquenta mil réis?

Quem arremata o lote é um judeu,

Quem garante sou eu,

Pra vendê-lo pelo dobro no museu.

 

Quem dá mais...

Por um samba feito nas regras da arte,

Sem introdução e sem segunda parte,

Só tem estribilho, nasceu no Salgueiro,

E exprime dois terços do Rio de Janeiro.

 

Quem dá mais?

Quem é que dá mais de um conto de réis?

Quem dá mais?

Quem dá mais?

Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três!

Quanto é que vai ganhar o leiloeiro,

Que é também brasileiro,

Que em três lotes

Vendeu o Brasil inteiro?

Quem dá mais...?

 

“Quem dá mais?” é um samba humorístico escrito em 1931 para a revista (espetáculo teatral cômico) “Café com Música”, sob encomenda para o quadro “Leilão do Brasil”. Era uma das oito canções da autoria de Noel Rosa incluídas no espetáculo de Maciel Pereira, Leo Grim e Eratósthenes Frazão, que estreou no Teatro Recreio em 24/04/1931.

O Vasco, a mulata e a barata voltaram a aparecer em outra letra de Noel, “Negócio de Turco”, paródia de um tango que não foi gravada:

 

Seu Jorge turco tem três anos de Brasil

E quando bebe mais de um barril

Encurta o pano de qualquer freguês

Comprou por cento e um mil e cento e vinte réis

Uma “barata” pra passear com a mulata

Que ele roubou de um português

 

E a mulata que era torcida do Vasco da Gama

Pra colchão vendeu a cama

E jejuava trinta vezes por mês

E hoje anda chique e é tratada com todo carinho

Já desfalcou a caixa do armarinho

Pra reerguer o Sírio Libanês. (...)

 

A menção ao Vasco, a Russinho e a uma barata ocorre por conta do “Grande Concurso Monroe”, que, em 1930, premiou o “Leader dos Footballers Brasileiros”. O concurso foi promovido pela Companhia Manufactora de Fumos Veado, em parceria com o Diário da Noite, jornal recém-lançado no Rio de Janeiro, e se estendeu aos estados de São Paulo (em parceria com o Diário de S. Paulo) e Minas Gerais (Estado de Minas). Todos os participantes eram filiados aos Diários Associados, empresa fundada por Assis Chateubriand. O vencedor ganharia, além do título, uma barata Chrysler tipo 77. O voto era feito com a embalagem vazia de qualquer marca de cigarro da companhia, na qual era anotado o nome do jogador escolhido.

Os mais cotados para ganhar os prêmios eram: Russinho (Vasco), Fortes (Fluminense), Filó (Corinthians), Friedenreich (São Paulo) e Nonô (Flamengo). O corpo social do Vasco da Gama se mobilizou para votar em Russinho. Um de seus cabos eleitorais foi João de Almeida, da fábrica Sabão Portuguez, que promoveu a rifa de um automóvel. Também se sorteou uma viagem para Portugal.

Moacyr Siqueira de Queiroz (Rio de Janeiro, 18/12/1902 – 14/8/1992), o Russinho,  era atacante e atuou no Vasco de 1924 a 1934. Foi campeão carioca em 1924, 1929 (quando marcou três gols na final Vasco 5 x América 0) e 1934, e artilheiro da competição em 1929 e 1931. É o 5º maior artilheiro da história do Vasco, com 225 gols em 237 jogos (média de 0,94) e foi titular da Seleção que disputou a primeira Copa do Mundo em 1930.

A apuração ocorreu no Theatro Lyrico, em 3 de junho, e sagrou Russinho o grande campeão. A barata foi entregue ao jogador em 15 de junho de 1930, com uma grande festa em São Januário, que coroou sua vitória.

A repercussão do Concurso Monroe fez com que a Amea (Associação Metropolitana de Esportes Atléticos) proibisse que os atletas amadores entrassem em concursos desse tipo.

A música de Noel Rosa foi relançada em diversas coletâneas e gravada por outros intérpretes. Na versão de 1974, da cantora Eliana Pittman, Russinho é substituído por Zanata, ídolo do Vasco na década de 70, campeão carioca em 1972 e 1977, e brasileiro em 1974:

 

Cinco mil-réis, duzentos mil-réis, um conto de réis!

Ninguém dá mais que um conto de réis?

O Vasco paga o lote na batata

E em vez de barata

Oferece ao Zanata uma mulata.

 

Outras gravações da música foram feitas pelos intérpretes:

- Vanja Orico, no LP “Vanja Orico” (Seta 080.027, 1981);

- MPB-4, no LP/CD “Feitiço Carioca – Do MPB-4 para Noel Rosa” (Continental 1.01.404.322, 1987);

- Eduardo Dussek, no LP/CD “Songbook Noel Rosa – Disco 2” (Lumiar Discos 100.211/2, 1991);

- Família Roitman, no CD “O Samba nas Regras da Arte” (Dubas Música M450999463-2, 1995);

- Cristina Buarque e Henrique Cazés, no CD “Sem Tostão... A Crise não é Boato” (BMG Brasil 7432127914-2, 1995);

- Alfredo Del-Penho, no CD “Noel Rosa: O Poeta do Samba e da Cidade”, que acompanha o livro de mesmo nome, escito por André Diniz (2010).



Flamengo x Vasco, 2011

Compositores e Intérpretes: Melão e Mara Reprodução: Youtube – Gleison Santos     Letra:   Eu vou botar meu time em campo, Meu t...